Um importante indicador econômico apresentado neste início de 2023 foi a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE. Olhando apenas o índice acumulado do ano temos uma boa notícia, que é o fato da inflação ter sido consideravelmente menor do que a registrada no ano anterior: 5,79% em 2022 contra 10,06% em 2021.
No entanto, mesmo com redução, a inflação ficou acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, que era de 3,5% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, a inflação poderia ficar entre 2,0% e 5,0% que seria considerada “dentro da meta”. Outro aspecto que precisa ser levado em conta é que na hora de detalhar o comportamento de algumas variáveis, fica claro que o impacto dos números foi mais intenso em famílias de baixa renda, especialmente por causa do preço dos alimentos.
“Se olharmos de maneira detalhada o comportamento da inflação em 2022, mesmo com a redução, é possível afirmar que parte da população (os mais pobres) não sentiu nenhum alívio”, observa Fabiano. Para entender o cenário, ele começa explicando como se calcula este índice de inflação. “O IBGE realiza uma pesquisa chamada Pesquisa do Orçamento Familiar (POF). É definida uma cesta de consumo, subdividida em grandes grupos, como alimentação e transportes, por exemplo, divididos em subgrupos e, por fim, em produtos consumidos. No grupo alimentação temos os subgrupos frutas, verduras, hortaliças, que tem os produtos: tomate, banana, alface etc.”
Conforme Fabiano, cada um dos grupos responde por um percentual diferente do índice, já que eles têm um peso diferente nos gastos das famílias. Desde 2020 a Pesquisa de Orçamentos Familiares usada como base para o cálculo é a pesquisa realizada em 2017/2018. “Na pesquisa, os quatro grupos com maior representatividade no índice são: transportes (20,84%), alimentação e bebidas (18,99%), habitação (15,16%) e saúde e cuidados pessoais (13,46%). Como é possível ver, esses quatro grupos representam quase 70% do gasto dos consumidores”, explica.
Alimentação e saúde tem maior impacto no IPCA
Se forem observados os aumentos por grupos, o que apresentou a maior variação no ano foi o grupo de vestuário (18,02%) . No entanto, ele tem uma participação pequena na montagem do índice, representando apenas 4,80% do IPCA. “O impacto da variação do vestuário é pequeno no índice total de inflação em 2022. Mas os grupos que apresentaram a segunda e a terceira maior variação são os de alimentação e bebidas (11,64%) e saúde e cuidados pessoais (11,43%). Esses dois grupos têm um impacto grande no índice”, explica Fabiano.
Mesmo com três meses de deflação em 2022 (julho, agosto e setembro com índices negativos), o resultado final foi influenciado fortemente pelo grupo de transportes, que fechou o ano de 2022 com uma variação negativa de -1,52%, por causa da redução nos preços dos combustíveis (principalmente a gasolina). “No entanto, a redução dos combustíveis não se traduziu em reduções significativas em outros grupos que compõem o IPCA”, aponta.
“É possível dizer que a inflação, apesar de menor no cálculo geral, foi mais perversa com algumas camadas da sociedade, já que a variação no grupo alimentação e bebidas foi quase 47% maior do que a registrada no ano de 2021. E este é um grupo muito relevante para todos, mas em especial para as famílias com renda mais baixa, que acabam consumindo uma parcela maior da sua renda com produtos do grupo alimentação e bebidas”, destaca Fabiano.
Inflação é mais perversa com famílias de menor renda
Conforme o professor, é importante observar o estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA, que mede a inflação por faixa de renda. Analisando este estudo no ano de 2022, é possível constatar que os dois extremos, as faixas de renda muito baixas (renda domiciliar até R1.726,01) apresentam as maiores taxas de inflação em 2022, com 6,35% e 6,83%, respectivamente. A inflação para a faixa média de renda foi de 5,63%, muito parecida com a renda média alta que foi de 5,65%. A faixa de renda média engloba famílias que têm renda domiciliar de R4.315,04.
“Na classe baixa quase 50% do índice é formado pelo impacto do preço dos alimentos: 3,42 pontos percentuais dos 6,35 do índice total. Já na classe mais alta o impacto deste grupo é de apenas 1,48 pontos percentuais. Estes dados apenas ajudam a reforçar o alerta de que o aumento no preço dos alimentos tende a gerar impactos mais intensos nas famílias com menor renda, tornando a inflação bastante perversa com esta camada da sociedade. Somando-se isso temos a redução do rendimento médio do trabalhador e o aumento da informalidade. Uma combinação que pode ser explosiva”, alerta.
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