A neurologista infantil, neurofisiologista clínica e membro da Associação Brasileira do Sono, Letícia de Azevedo Soster, explica por que o distúrbio do sono é tão prejudicial para as crianças com TEA. “O desenvolvimento e a maturação neuronal, a construção de sinapses e a poda cerebral acontecem no período do sono. Portanto, essa fisiologia do desenvolvimento pode ficar ainda mais comprometida com o sono de má qualidade”, alerta. “Há consequências também físicas: o GH, o hormônio do crescimento, é liberado principalmente na primeira metade do sono. Se a criança tem o sono entrecortado, também essa liberação será minimizada”.
Soster explica que os distúrbios do sono são tanto de natureza orgânica como comportamental. “Do ponto de vista homeostático, notamos que a criança com TEA ou não gasta muita energia ou, se gasta, fica mais alerta, como se estivesse habituada a viver com o cansaço”. Outra hipótese, já confirmada em alguns estudos, é que algumas crianças com TEA têm uma redução na produção de melatonina – um hormônio produzido pela glândula pineal, localizada no cérebro, cuja função é regular o ritmo biológico do corpo e estimular o sono no período noturno. A neuropediatra aponta, ainda, outros fatores que podem levar aos distúrbios do sono. Um deles é a apneia obstrutiva do sono, causada principalmente pelo relaxamento dos tecidos da faringe e da base da língua, o que altera a respiração durante o sono. O outro tem base comportamental: “Sentir sono é uma sensação aversiva. Frente a ela, há quem tente ir contra e o resultado é a dificuldade de adormecer”.
Independentemente da causa que resulta no distúrbio do sono em crianças com TEA, os reflexos no comportamento são claros: irritabilidade, aumento da agressividade, da agitação e dificuldade de regulação emocional, entre outras manifestações. “É importante destacar que, embora os distúrbios do sono sejam altamente prevalentes em crianças, não é incomum que eles persistam na adolescência e na vida adulta, especialmente quando a causa é comportamental. É por esta razão que os pais devem ficar atentos aos sinais e compartilhar a dificuldade com o sono com os profissionais que já atendem a criança. A abordagem interdisciplinar é eficiente para minimizar os impactos que acabam por afetar toda a família”, completa Soster.
Sinais de que a criança com TEA pode sofrer com distúrbio do sono
Confira os principais sinais:
Durante o dia:
A criança pode ter dificuldade em se manter fazendo uma tarefa. A falta de sono compromete o foco.
Acorda mal-humorada e se mantém assim ao longo do dia? Este é um sinal importante.
A irritabilidade é evidente, assim como uma maior agressividade. Há uma baixa tolerância à frustração.
A agitação é outro sintoma que precisa ser considerado. Pode ser uma reação para ‘driblar’ a sonolência,
uma sensação aversiva para alguns.
Durante à noite:
A criança tem dificuldades ou resiste em adormecer.
Se a criança ronca enquanto dorme, pode ser um importante sinal de alguma dificuldade respiratória.
Note se a respiração é ruidosa ou trabalhosa.
Observe, ainda, se a respiração é feita pelo nariz ou pela boca, neste caso, pode indicar que há algum problema.
Normalmente, a criança com distúrbio do sono acorda diversas vezes durante o sono ou se mexe excessivamente.
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