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Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2025
Estudos de gênero e sexualidade na Antiguidade redimensionam tabus atuais

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Estudos de gênero e sexualidade na Antiguidade redimensionam tabus atuais

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Entre os dias 24 e 28 de outubro, o Messalinas – Grupo de Estudos sobre Gênero e Sexualidade na Antiguidade realiza seu primeiro congresso internacional, em formato totalmente digital. Com o tema Gênero e Sexualidade na Antiguidade: Possibilidades de Pesquisa e Ensino, o congresso terá como objetivo colocar pesquisas em diálogo, intensificando o debate sobre a interface entre pesquisa e ensino. As inscrições permanecerão abertas durante todo o evento e podem ser feitas pelo formulário. O Messalinas é ligado à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e é coordenado pela professora e pesquisadora Sarah Azevedo. Ela explica que o evento irá abordar documentos sobre a antiguidade mediterrânica, que diz respeito à Mesopotâmia, Egito, Grécia e Roma, além de trabalhos que abordam documentos da antiguidade chinesa. “Nossa ideia foi reunir diversidade de trabalhos, porque a teoria de gênero tem se revelado múltipla, levando a muitas divergências, o que é muito salutar”, diz.
A professora de História Antiga da FFLCH afirma que a Antiguidade é um referencial duplo: “Ao mesmo tempo é próxima e distante de nós, de forma espacial e temporal”. Para ela, embora essa história antiga do Mediterrâneo não diga respeito à história do Brasil, no sentido da continuidade espacial, é capaz de revelar muito sobre o que é o Ocidente e o que herdamos. “Queremos mostrar como este corpus documental nos diz respeito, na medida em que temos várias referências a essa Antiguidade em nossa cultura, nossa língua. E essas referências estão presentes no cinema, nas obras de arte e no ensino de história”, aponta. O congresso também tem como foco aproximar professores do ensino fundamental e médio de pesquisadores para debater a partir da interface entre pesquisa e ensino. Os organizadores do evento querem chamar atenção para a potencialidade dos estudos de gênero no ensino de história, a partir da análise documental. Para Sarah, as pesquisas podem apoiar novas interpretações sobre papéis de gênero.
“Eles podem nos ajudar a pensar em como masculino e feminino são construções artificiais, que variam ao longo do tempo e do espaço, para podermos relativizar e problematizar o essencialismo. Ou seja, queremos chamar a atenção para como os comportamentos são naturalizados. O que temos percebido é que esses documentos têm revelado muito sobre o presente. A gente acaba percebendo que muitos moralismos não vêm exatamente da Antiguidade, eles são contemporâneos! Então, muitas vezes essa leitura da documentação revela isso, e a gente precisa questionar os valores da sociedade atual para poder enxergar.”
Para teorizar o fenômeno do patriarcado, os conjuntos de leis da Antiguidade foram muito estudados durante o século 20. Em especial, documentos jurídicos de sociedades explicitamente patriarcais, como Mesopotâmia, Egito, Grécia e Roma. “Hoje em dia a gente tem um patriarcado que se manifesta de forma diferente. Na Antiguidade e no Medievo, ou seja, em sociedades que são pré-capitalistas, não havia ainda uma mercantilização dos corpos”, define Sarah. A coordenadora do Messalinas afirma que a sexualidade nos dias de hoje é muito pautada no consumo de corpos, na objetificação do corpo feminino e no consumo desses corpos objetificados. “A Antiguidade pode nos oferecer um contraponto, para pensarmos nas questões de gênero e sexualidade no passado e no presente, porque capitalismo e patriarcado são dois fenômenos imbricados”, analisa. Outros valores e categorias, porém, não integravam a forma de organizar a sexualidade na Antiguidade. Por exemplo, a ideia de sexo como tabu e definições como heterossexual / homossexual. “Para fazer esta análise, temos que nos despir de certos conceitos e valores que são da contemporaneidade, então a gente acaba repensando a sociedade atual”, diz. Além de ampliar o contexto histórico de conceitos como o patriarcado, o evento pretende apresentar outros modelos teóricos pouco explorados nos currículos. Entre as mesas de discussão, uma será sobre pré-história e Mesopotâmia, com a professora Lolita Guerra. Ela faz parte do grupo Messalinas e é professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Lolita tem se dedicado a estudar a tese do matriarcado na pré-história e as questões de gênero a partir desta hipótese. “É um tema interessante para ser trabalhado em sala de aula, porque diz respeito ao surgimento da agricultura e outras questões de gênero problemáticas, que são ensinadas de forma muito acrítica, reforçando estereótipos de gênero ao invés de combatê-los”, diz Sarah.
A definição clássica de Antiguidade ensinada atualmente também é questionada no evento, que leva esta perspectiva para as mesas de discussão. De acordo com a coordenadora do Messalinas, o currículo da história antiga surge no século 19 associado à formação das identidades nacionais, principalmente de duas grandes potências: Inglaterra e França. Os museus Britânico e do Louvre, em Paris, se apropriam de documentos da Antiguidade e os associam à origem destas nações. “Neste momento, consolida-se essa divisão entre a Antiguidade clássica, que seria Grécia e Roma, e o antigo Oriente Próximo, que seria a Mesopotâmia e o Egito. É uma divisão que está no currículo da história antiga mas é muito arbitrária e tem objetivos muito ideológicos”, conta. Ela explica que os pesquisadores da área têm optado por falar em “História do Mediterrâneo Antigo”, buscando frear uma narrativa eurocentrista da história antiga. Fonte: Jornal da USP
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Célio Roberto Velho

Publicado por:

Célio Roberto Velho

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