Ataques violentos em escolas envolvendo crianças e adolescentes tumultuaram as mídias nos últimos dias. Na última segunda-feira, dia 27/03, numa escola estadual na zona sul de São Paulo, um aluno de 13 anos atacou diversas pessoas com uma faca e uma professora de 71 anos foi a óbito. No mesmo dia, ao menos três crianças e três adultos foram mortos em um ataque a tiros em uma escola na cidade de Nashville, no estado americano do Tennessee. Em 28/03, um aluno de 15 anos foi detido em uma escola no Rio de Janeiro após tentar esfaquear colegas.
A partir desses graves e lamentáveis acontecimentos, infelizmente podemos perceber como essas crianças foram e estão sendo expostas a uma violência gigantesca. Não só as vítimas, mas os agressores certamente estiveram em contato com situações, falas, contextos, ambiente e práticas agressivas que estimulam a violência.
Tudo isso nos leva a refletir em como as nossas crianças têm sido educadas, protegidas e orientadas. O que leva crianças e adolescentes a terem atitudes tão radicais e extremas como essas? Quais são suas vivências? Em quais realidades estão inseridos? Claro que nada é justificável, porém é importante pensar em como esse sentimento de ódio e essa prática violenta nasceu e foi alimentada, para que saibamos cuidar das nossas crianças antes que elas alcancem esse nível de agressividade e estejam vulneráveis a cometer crimes.
Quando situações extremas como essas ocorrem geralmente representam o estopim de algo muito profundo que foi semeado por muito tempo e não se limita às atitudes das crianças que cometeram os atos. Por essa razão, é extremamente importante que pais e familiares estejam atentos aos menores detalhes, sinais de alerta e situações nas quais as crianças estão expostas, seja dentro do convívio familiar, da escola, em brincadeiras com amigos, etc.
As crianças e adolescentes precisam ter um espaço de escuta pelos pais, se sentir à vontade para expressar sentimentos e contar o que os angustia dentro dos ambientes em que estão inseridos.
No consultório, com certa frequência, atendo crianças que têm problemas de expressar suas emoções e possuem uma grande desregulação. Não sabem lidar com frustrações, desentendimentos, perdas e muito menos com a raiva. Todos esses sentimentos e comportamentos precisam ser trabalhados, ouvidos e desenvolvidos, para que os frutos não sejam amargos e penosos, assim como ocorreu nessas escolas. Nesses momentos, o papel do terapeuta é fundamental, não só em tratar das crianças, mas também em orientar os responsáveis. Além disso, todas as pessoas que presenciaram situações de violência também precisam de um acompanhamento psicológico e muito respaldo nesse momento tão delicado. Quando essas vivências não são bem tratadas, podem exercer consequências preocupantes na vida das crianças vítimas de tamanha catástrofe e destruição.
* Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita. Mais informações em https://helenpsicologa.com.br/
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