A diversidade está mais profissional e estruturada nas empresas do que há dois anos na percepção dos profissionais do segmento, de acordo com um levantamento realizado pela consultoria Tree Diversidade e pelo Grupo TopRH.
A sondagem junto a 190 profissionais de empresas de todo o país identificou que o percentual de respondentes exercendo posição específica em diversidade, equidade e inclusão (DE&I) saltou de 23% para 42% entre a primeira investigação em 2021 e a segunda em 2023.
O levantamento também identificou avanço no percentual de pessoas a ocupar cargos de analistas e assistentes na área de DE&I. O número passou de 34% no primeiro levantamento para 47% na edição mais recente, evidenciando que as empresas investiram em equipes para conduzir ações na área.
“Houve um avanço importante. No primeiro levantamento, em 2021, a percepção era que a diversidade tinha características mais próximas de um ‘voluntariado corporativo’, ou seja, sem direcionamento, verbas, líderes designados, com pessoas acumulando funções e menos capacitação”, destaca Letícia Rodrigues, sócia-fundadora da Tree.
Além da maior prevalência de pessoas em função específica, o levantamento também identificou que os profissionais de DE&I estão mais diversos em relação à sondagem anterior, mas ainda longe de representar adequadamente os diversos grupos minorizados da sociedade brasileira.
Os profissionais autodeclarados brancos ficaram menos prevalentes. Hoje são 45% da amostra, quando eram 51% em 2021. A proporção de pardos subiu para 20%. Há dois anos era 16%. Os pretos também estão mais presentes. São 32%, ao passo que somavam 28% em 2021. Subiu também a proporção de pessoas trans, para 7%, contra 5% antes.
Como em 2021, a saúde mental segue desafiadora no exercício de DE&I. Em 2023, 37% dos respondentes disseram que a saúde mental piorou desde o início do trabalho na área, alta de 2 pontos percentuais sobre 2021. Além disso, 38% concordam que hábitos de sono e alimentação mudaram com o trabalho na área, mesmo número de 2021.
“Alguns índices apresentaram estagnação ou retrocesso, como a preocupação das empresas com a saúde mental dos profissionais de DE&I. Isso nos mostra que há ainda um caminho a percorrer e é nossa responsabilidade falarmos disso”, avalia Daniel Consani, CEO do Grupo TopRH.
Para Letícia Rodrigues, a percepção de que o exercício da profissão prejudica a saúde mental está relacionada ao fato de esses profissionais terem mais contato com exclusões e injustiças sofridas por grupos minorizados. Além disso, o percentual de profissionais que não vê suas empresas preocupadas com a saúde mental saltou de 28% para 35% em 2023.
Esse é o dado mais preocupante do levantamento, atribuído pela especialista à percepção de que as ações de DE&I podem sofrer interrupções arbitrárias e cortes em cenários de crise econômica, justificando, inclusive, a demissão de pessoas de grupos minorizados, tidos como mais vulneráveis do que outros.
“O mundo viu empresas do Vale do Silício tidas como modelos de empregadores se desfazerem sem cerimônia de profissionais contratados por ações afirmativas ao mesmo tempo em que se fortaleceu a ideia de que a diversidade é uma barreira ao crescimento das empresas, quando, na verdade, é estratégica para viabilizá-lo”, pontua Rodrigues.
Nesse cenário de incerteza, os profissionais de DE&I têm buscado ajuda fora das empresas. Na pesquisa de 2023, o número de pessoas que disseram ter recorrido a psicólogos com alguma frequência subiu de 45% para 55% entre as duas sondagens.
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