Foram 225 baleias-francas (110 mães, acompanhadas de filhotes, e cinco adultas sozinhas) avistadas no monitoramento aéreo realizado entre os dias 15 e 18 de setembro, durante os sobrevoos que cobriram os litorais do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Ao todo foram 1,2 mil quilômetros percorridos de helicóptero. A empreitada se justifica devido ao período ser o auge da temporada das baleias-francas no litoral brasileiro.
E essa jornada é uma iniciativa da Expedição Baleia-Franca, que realizou o sobrevoo estendido pelo litoral sul do Brasil, uma ação conjunta do Programa de Monitoramento das Baleias-francas da SCPAR Porto de Imbituba (SC) e do Projeto Franca Austral, realizado pelo Instituto Australis, com patrocínio Petrobras.
Em Santa Catarina a maior concentração ocorreu entre a praia de Ibiraquera, Imbituba, e Mar Grosso (Laguna). Já em Florianópolis foram avistadas baleias nas praias de Joaquina e Moçambique. No Rio Grande do Sul, a maior quantidade foi registrada entre Capão da Canoa e Tramandaí. Já o vizinho Paraná não contou com avistagens - no trecho entre Guaratuba (PR) e São Francisco do Sul (SC) o monitoramento teve que ser interrompido em função de um nevoeiro marítimo que prejudicou a operação. O registro mais austral ocorreu em Balneário Pinhal, no Rio Grande do Sul.
Segundo Eduardo Renault, Gerente de Pesquisa do ProFRANCA, “em relação aos anos anteriores, foi período com um número de baleias acima da média, próximo do número registrado em 2022. O padrão de distribuição esteve semelhante, mas o interessante foi ter poucas baleias em enseadas tradicionais do trecho norte da Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, como a enseada da Gamboa, em Garopaba. Fugiu um pouco do padrão que costumamos registrar”.
A maior concentração ficou no litoral de Santa Catarina, com concentrações em algumas enseadas - uma tendência normalmente observada nesta época, representando o pico da temporada. “Agora a maioria das baleias já estão acompanhadas de seus filhotes, com um comportamento refletindo o fato de Santa Catarina ter as condições ideais para os cuidados das mães com os filhotes.” Em 2020, em expedição cobrindo área semelhante, foram registradas apenas 42 baleias-francas. Em 2022, após análise final dos registros, foram contabilizadas 228 baleias-francas.
Durante este último sobrevoo foram avistadas algumas baleias antigas conhecidas, entre elas a Zebrinha, catalogada com o número B194, conhecida desde 2002, que neste ano teve um filhote semi-albino. Também foi registrada uma delas que, no dia 2 de setembro foi vista na praia do Moçambique, com um pedaço de rede de pesca preso à cabeça - e agora já livre da intempérie. Chamou a atenção uma rara baleia semi-albina fêmea. A ocorrência dessa característica tem sido registrada no Brasil, porém são raras as baleias-francas fêmeas com esta característica. Foi a primeira vez que o fato é detectado no litoral brasileiro.
Durante o sobrevoo, a equipe de monitoramento aéreo, formada por dois observadores e um fotógrafo, fez o censo e o registro da localização dos indivíduos, além da fotografia das baleias. As fotos serão utilizadas na identificação dos indivíduos adultos, possível através de calosidades que cada animal possui sobre a cabeça, únicas para cada baleia-franca, como se fosse uma impressão digital.
De acordo com Mariana Silvano, bióloga da empresa Acquaplan, empresa contratada do Porto de Imbituba e que integrou a equipe aérea da expedição, "na região do Porto, foram avistados diversos grupos de baleias-francas, demonstrando a importância dessa área para a espécie, o que reforça a relevância do acompanhamento contínuo das atividades portuárias por pesquisadores”.
De acordo com Karina Groch, diretora de Pesquisa do ProFRANCA, “já tínhamos a expectativa de ser uma temporada com grande quantidade de baleias, pelos números que vimos registrando desde junho, quando da chegada dos primeiros indivíduos. O trabalho de conscientização e de monitoramento tem sido essencial para sua preservação, conservação e aumento de indivíduos”, esclarece Karina. Desde o início do monitoramento, na década de 1980, o maior número foi registrado em 2018, quando 273 baleias foram avistadas.
Para Paulo Márcio de Souza, gerente de Meio Ambiente da SCPAR Porto de Imbituba, a Expedição Baleia-Franca trouxe resultados excelentes para todos que trabalham pela conservação da espécie. "O sobrevoo estendido mostrou que a população está cada vez ocupando mais áreas ao longo da costa do sul do Brasil, o que reforça o compromisso de todos nós para cuidar e proteger essas gigantes", disse.
Monitoramentos
Um monitoramento sistemático a partir de terra está sendo realizado pelo projeto ProFRANCA ao longo de 15 pontos fixos na região da APA da Baleia Franca. A metodologia empregada dá continuidade aos estudos de longo prazo realizados pelo Instituto Australis, para avaliar a abundância, o padrão de distribuição, a sazonalidade e o comportamento das baleias-francas.
Na região do Porto de Imbituba, o Programa de Monitoramento das Baleias-Francas integra o Plano de Controle Ambiental (PCA) da SCPAR Porto de Imbituba. Realizado há 15 anos, o trabalho abrange duas metodologias: monitoramento aéreo e terrestre. Por terra, a observação ocorre em pontos fixos nas enseadas das praias do Porto e da Ribanceira, entre os meses de julho e novembro, e é executado pela empresa Acquaplan Tecnologia e Consultoria Ambiental.
O monitoramento da frequência dos cetáceos na região possibilita que o Porto estabeleça controles operacionais voltados à conservação da espécie. “As informações coletadas ao longo da temporada permitem analisar a frequência de uso e comportamento das baleias, a fim de garantir a segurança e a conservação da espécie em harmonia com a continuidade das operações portuárias”, avalia Camila Amorim, oceanógrafa da SCPAR Porto de Imbituba.
As baleias-francas
A baleia-franca é uma espécie ainda ameaçada de extinção no Brasil, e conta com uma população estimada em cerca de 500 indivíduos e uma taxa de crescimento de 4% ao ano. Os números são resultado de uma tese de doutorado, contemplando uma análise de 15 anos de dados dos sobrevoos de monitoramento da espécie. A realização e continuidade deste monitoramento sistemático de longo prazo é fundamental para acompanhar a recuperação populacional da espécie no sul do Brasil.
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