Guia alimentar para a população brasileira, ultraprocessados são alimentos produzidos em laboratório utilizando corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e vários tipos de aditivos, usados para deixar os produtos mais atraentes para o consumidor. Os ultraprocessados também apresentam desequilíbrio nutricional, consequência da grande quantidade de açúcares, gorduras e sal inserida neles, na tentativa de fazer o alimento parecer mais saboroso. Dentre os alimentos ultraprocessados, estão os biscoitos recheados e salgadinhos “de pacote”, refrigerantes e macarrão “instantâneo”. O Guia recomenda que esse tipo de alimento seja evitado. A presença de termos que fazem alusão ao caseiro pode induzir o consumidor a escolher aquele produto. “Parece uma tentativa de fazer esse alimento remeter a algo que ele não é”, explica Rafaela.
A pesquisadora se questiona se o termo caseiro, remetendo a algo que ele não é, poderia estar sendo comercializado dessa forma, e os resultados do trabalho reforçam a necessidade de regulamentar o uso do termo e seus equivalentes nos rótulos dos alimentos industrializados. O que a lei regulamenta atualmente é que não são permitidos termos, figuras ou informações nos rótulos que possam induzir o consumidor a cometer um equívoco em relação às características dos alimentos. No entanto, não há uma legislação específica sobre o uso do termo caseiro nas embalagens dos alimentos industrializados. “Essa mudança deveria acontecer nos rótulos dos alimentos e deveria partir de quem regulamenta”, diz a nutricionista. Rafaela é formada em Nutrição desde 2019 e desenvolveu o estudo no Programa de Pós-Graduação em Nutrição, na Linha de Pesquisa III – Nutrição em Produção de Refeições e Comportamento Alimentar, no âmbito do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (Nuppre) da UFSC. O estudo consiste no resultado da sua dissertação de mestrado, defendida em julho deste ano, e teve como orientadora a professora Paula Lazzarin Uggioni e coorientadora a professora Ana Paula Gines Geraldo, ambas do Departamento de Nutrição da Universidade. O estudo contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc), por meio da concessão de bolsas de mestrado à aluna.
Para o estudo, Rafaela se baseou em um censo de rótulos feito em 2020 por outro grupo de pesquisadoras, que realizaram o levantamento de informações de alimentos que estavam à venda nos supermercados de Florianópolis. A partir das embalagens dos produtos examinados no censo, ela identificou o termo caseiro e expressões semelhantes, como receita de casa ou casa de vó. Por fim, a última etapa incluiu a análise e a comparação dos ingredientes listados nos rótulos dos alimentos industrializados com aqueles de receitas culinárias tradicionais equivalentes. Para fazer a comparação entre os ingredientes dos rótulos e das receitas, Rafaela utilizou o livro de culinária Dona Benta: comer bem, priorizando a primeira edição da obra, publicada em 1940, e buscou por receitas que fossem equivalentes às industrializadas. Ao identificar um industrializado com o termo caseiro, a pesquisadora procurava a receita tradicional que mais se assemelhasse a esse alimento, utilizando a lista de ingredientes, e fazia a comparação.
Ao analisar as receitas culinárias tradicionais do livro de receitas, percebe-se que são preparadas principalmente com ingredientes naturais. Entre os alimentos com alusão à palavra caseiro estudados, foi identificada a presença de aditivos alimentares, substâncias que têm o propósito de modificar as características dos alimentos, alterando sua cor, sabor e aparência. Além disso, 44,23% dos produtos pertenciam à categoria de panificação, cereais, leguminosas, raízes, tubérculos e seus derivados, como pães, bolos, biscoitos e massas, e a maior parte foi considerada ultraprocessada. Segundo o FONTE/CRÉDITOS (IMAGEM DE CAPA): Foto:Divulgação
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