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Domingo, 08 de Dezembro de 2024
Pesquisadora da UFSC analisa uso do termo ‘caseiro’ em embalagens de alimentos industrializados

Florianópolis

Pesquisadora da UFSC analisa uso do termo ‘caseiro’ em embalagens de alimentos industrializados

Pesquisa

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A nutricionista Rafaela Bertolazi Maritan realizou uma pesquisa que analisa alimentos industrializados intitulados como caseiros e compara os ingredientes listados em seus rótulos com os que são realmente usados em receitas culinárias tradicionais. Conduzido no Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o estudo demonstrou que a maior parte dos alimentos com o termo caseiro presente na embalagem é considerada ultraprocessada e com alto teor de açúcar, sal e/ou gorduras. O trabalho intitulado Comparação entre os ingredientes listados nos rótulos de alimentos industrializados com o termo caseiro e seus análogos com aqueles de receitas culinárias tradicionais foi desenvolvido ao longo de dois anos.

Rafaela Bertolazi Maritan é pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da UFSC. Foto: divulgação

Para o estudo, Rafaela se baseou em um censo de rótulos feito em 2020 por outro grupo de pesquisadoras, que realizaram o levantamento de informações de alimentos que estavam à venda nos supermercados de Florianópolis. A partir das embalagens dos produtos examinados no censo, ela identificou o termo caseiro e expressões semelhantes, como receita de casa ou casa de vó. Por fim, a última etapa incluiu a análise e a comparação dos ingredientes listados nos rótulos dos alimentos industrializados com aqueles de receitas culinárias tradicionais equivalentes. Para fazer a comparação entre os ingredientes dos rótulos e das receitas, Rafaela utilizou o livro de culinária Dona Benta: comer bem, priorizando a primeira edição da obra, publicada em 1940, e buscou por receitas que fossem equivalentes às industrializadas. Ao identificar um industrializado com o termo caseiro, a pesquisadora procurava a receita tradicional que mais se assemelhasse a esse alimento, utilizando a lista de ingredientes, e fazia a comparação. Ao analisar as receitas culinárias tradicionais do livro de receitas, percebe-se que são preparadas principalmente com ingredientes naturais. Entre os alimentos com alusão à palavra caseiro estudados, foi identificada a presença de aditivos alimentares, substâncias que têm o propósito de modificar as características dos alimentos, alterando sua cor, sabor e aparência. Além disso, 44,23% dos produtos pertenciam à categoria de panificação, cereais, leguminosas, raízes, tubérculos e seus derivados, como pães, bolos, biscoitos e massas, e a maior parte foi considerada ultraprocessada. Segundo o Guia alimentar para a população brasileira, ultraprocessados são alimentos produzidos em laboratório utilizando corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e vários tipos de aditivos, usados para deixar os produtos mais atraentes para o consumidor. Os ultraprocessados também apresentam desequilíbrio nutricional, consequência da grande quantidade de açúcares, gorduras e sal inserida neles, na tentativa de fazer o alimento parecer mais saboroso. Dentre os alimentos ultraprocessados, estão os biscoitos recheados e salgadinhos “de pacote”, refrigerantes e macarrão “instantâneo”. O Guia recomenda que esse tipo de alimento seja evitado. A presença de termos que fazem alusão ao caseiro pode induzir o consumidor a escolher aquele produto. “Parece uma tentativa de fazer esse alimento remeter a algo que ele não é”, explica Rafaela.

Enquanto uma receita tradicional de bolo de laranja levaria apenas ingredientes disponíveis na despensa da cozinha: ovos, farinha, açúcar, óleo, fermento e laranjas, os ingredientes listados no rótulo de um industrializado incluem quase dez emulsificantes, estabilizantes e aromatizantes. Foto: reprodução

A pesquisadora se questiona se o termo caseiro, remetendo a algo que ele não é, poderia estar sendo comercializado dessa forma, e os resultados do trabalho reforçam a necessidade de regulamentar o uso do termo e seus equivalentes nos rótulos dos alimentos industrializados. O que a lei regulamenta atualmente é que não são permitidos termos, figuras ou informações nos rótulos que possam induzir o consumidor a cometer um equívoco em relação às características dos alimentos. No entanto, não há uma legislação específica sobre o uso do termo caseiro nas embalagens dos alimentos industrializados. “Essa mudança deveria acontecer nos rótulos dos alimentos e deveria partir de quem regulamenta”, diz a nutricionista. Rafaela é formada em Nutrição desde 2019 e desenvolveu o estudo no Programa de Pós-Graduação em Nutrição, na Linha de Pesquisa III – Nutrição em Produção de Refeições e Comportamento Alimentar, no âmbito do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (Nuppre) da UFSC. O estudo consiste no resultado da sua dissertação de mestrado, defendida em julho deste ano, e teve como orientadora a professora Paula Lazzarin Uggioni e coorientadora a professora Ana Paula Gines Geraldo, ambas do Departamento de Nutrição da Universidade. O estudo contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc), por meio da concessão de bolsas de mestrado à aluna.
FONTE/CRÉDITOS (IMAGEM DE CAPA): Foto:Divulgação
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Célio Roberto Velho

Publicado por:

Célio Roberto Velho

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